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 E a primeira vez que esperei ansiosamente pelo final de
de um show que gostei desde o começo

 

O dia 2 de dezembro de 2018 está gravado em mim.  Neste dia eu ouvi em um palco curitibano três
músicas antológicas da banda Joy Division sendo tocadas por nada menos que
metade da banda original: Bernard Summer (vocais, guitarra e sintetizadores) e Stephen
Morris (bateria, bateria eletrônica e sintetizadores). Faltou Peter Hook (baixo
e sintetizadores). Não faltou Ian Curtis, vocalista e compositor, porque ele
sempre estará entre nós, a despeito de sua escolha trágica naquele solitário e
desolador 18 de maio de 1980. Completam a formação atual do New Order os
músicos Gilian Gilbert, Tom Chapman e Phil Cunningham.
Ainda agora, ouvir os trechos que consegui gravar da performance desta que é uma das influentes da história da música e um dos elos entre o rock e a
música eletrônica, nascida dos escombros do Joy Division, me provocam lágrimas. Como disse um amigo de redes sociais: eu ainda estou neste show!
Na verdade, eu praticamente ainda não acredito que ouvi e vi isso ao vivo…
parece quase um sonho que se mistura com as imagens da minha vida, com as de uma
gravação em VHS que não lembro como o Ivan conseguiu, mas lembro muito bem que assistimos
aquela fita incontáveis vezes, sempre quase em silêncio, ‘de cara’ com a intensidade daquela
performance. Era a gravação de um show, se sei onde foi não lembro, com pouquíssima luz, quase não se via
nada em vários momentos, ‘só’ aquele som hipnótico, uns vultos se mexendo, com aquela banda nos
conduzindo por um labirinto de sensações e emoções da flor da idade que se abriam diante dos nossos não mais que vinte anos.
Foi ali que conhecemos o jeito de Ian Curtis dançar, foi ali que
sentimos a força da banda além dos discos. É uma memória muito, muito forte que
está cravada em mim, por inúmeras razões que se misturaram às entranhas e me
alimentam até hoje. Porque não existiu uma única vez que eu tenha ouvido Joy
Division sem ficar absolutamente mexida com a audição. Com o passar do tempo,
biografias e histórias vieram somar informações sobre a construção de um mito
de verdade, com suas incongruências e dicotomias, inseguranças e incertezas e escolhas, tão humano, frágil e forte, capaz de criar e de destruir (-se, inclusive), trazendo uma sensação ainda mais forte de um tipo de cumplicidade
que às vezes se constrói com alguém que se admira à distância. È muito complexo tudo que envolve o
Joy Division, que é uma daquelas bandas super influentes da música mundial que teve um fim prematuro e trágico.
Eu  ainda não acredito que vi e ouvi isso.
Em 1988, quando o New Order tocou no Brasil a primeira vez eu não conhecia a banda. Jamais tinha ouvido falar em Joy Division. Tudo mudaria um ou dois anos
depois,  já na faculdade, um dos ‘marco
zero’ da minha vida! Eu já tinha iniciado minha própria descoberta musical, mas
a partir dali ganhei alguns dos aliados mais importantes na minha vida, musical
inclusive, amigos com ouvidos pra lá de especiais, corações atentos e mentes cheias
de ideias e vontades a serem realizadas. Juntos passamos por algumas
descobertas. E foi assim que cheguei a
Joy Division, por tabela!
Na noite daquele domingo de dezembro de 2018 foi impossível não lembrar de tudo – e
aquele filminho que passa na cabeça da gente quando nos deparamos com uma cena
que provoca a memória, tumultuou tudo. O coração se dividiu entre ‘só’
aproveitar o momento e a vontade forte de também registrar algo mais, para além
de nós. Todo o show foi incrível.  Show
de luzes, de som, de público absolutamente encantando e a distância do palco
foi um detalhe (quase) irrelevante. A presença de uma banda real para fazer um som
eletrônico continua fazendo a diferença e é uma das razões que mantêm New Order
no topo até hoje, como dona de uma das grandes performances nas quais o peso de
sua história não atrapalha o agora. Ao contrário, ajuda. Muito da visceralidade (tranquila) da banda vem dessa combinação de músicos de verdade fazendo o som  junto com
as bases pré-gravadas. Fez a diferença (já no Joy, pioneiro no uso de elementos
eletrônicos) quando o trio remanescente teve que continuar a caminhada
iniciada ao lado de Ian Curtis e continuou fazendo ao longo da trajetória do
New Order que deu continuidade ao legado do Joy.
A única coisa estranha é que foi a primeira vez que esperei ansiosamente pela parte final de
um show – e, por favor, isso não é demérito algum ao New Order, é só  o sinal de um coração
encantado se dando ao direito de ser livre. Dancei, dancei, dancei e dancei!
Não é a toa que a banda é referência. New Order é desses grupos que você não
precisa conhecer uma música sequer para curtir.  Entre as faixas mais conhecidas e as que eu
não conhecia nenhuma distância existiu –  a não ser, claro, os suspiros e exclamações.
Eu
ainda não acredito que vi e ouvi isso.
Atmosphere
Walk in silence/ Don’t walk away, in silence/ See the danger/ Always danger

Então, é só eu colocar os pedaços
estilhaçados das gravações que tentei fazer, enquanto estava mais ocupada em viver.
Mas, não é um ‘basta’ fácil, porque colocar uma música do Joy pra tocar não é
assim tão simples. Pra mim não é! Imagine então ver isso, com esses olhos me olhando,
misturados as tais imagens do show escuro que estão cravadas na minha memória…
tudo contribui para que minha mente se liberte e até se iluda, por
alguns instantes: eu vi um pedaço de Joy Division bem pertinho de mim,
tocando pra nós, naquela noite inesquecível que aconteceu ali do outro lado de Curitiba.

decades

Here are the young men, a weight on their shoulders
Here are the young men, well, where have they been?
We knocked on doors of hell’s darker chambers
Pushed to the limits, we dragged ourselves in

Watched from the wings as the scenes were replaying
We saw ourselves now as we never had seen
Portrayal of the traumas and degeneration
The sorrows we suffered and never were freed

 

 

Em tempo e atualizando informações: O VHS que a gente tinha era uma cópia do VHS lançado oficialmente pela Factory com o título “Here are the young man”, com trechos de shows do Joy Division, lançado em 1982!

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