De Inverno Comunicação

contato@deinvernocomunica.com.br

Meu tempo não é mais meu. A Juju mexeu o rabo. Entre a percepção e o fato, uns 15 dias se passaram. De certo, mesmo, apenas a constatação de que meus dias ficaram diferentes. Primeiro, a ansiedade de não saber nada e depender do tempo de outros, do retorno de outros, do movimento de outros. Quase não toquei mais o baixo, a leitura ficou parada antes da metade do livro, a compra da cadeira de trabalho ficou pra depois. Todo o tempo ficou pra Juju e pras responsabilidades profissionais. O resto foi sendo encaixado, quando deu.  Tivemos momentos de tensão, com um pé/pata no surto, meus e da Juju – coitado do Ivan segurando a onda, tentando equilibrar os humores com seu imprescindível apoio no vai e vem para dar mais conforto pra ela. Erramos, por certo; mas acertamos mais, tenho certeza.

Convivo com essa nova rotina desde que a Juju ficou com as pernas traseiras paralisadas, numa noite de domingo fria e chuvosa, em junho. A primeira semana foi a pior, porque eu estava certa de que logo ela voltaria pra casa, mas a alta não veio e ela foi pra outra clínica; pra cirurgia na coluna e pra novos tratamentos (e remédios). Remédios que exigiram cuidados extras no estômago, entender a comunicação impaciente que surgiu a cada dia… e no meio disso tudo cuidar de nossas próprias costas; da nossa saúde mental, porque o estresse e as tretas são meio inevitáveis em certos momentos. No começo, acordava muito cedo com ela choramingando, molhada, queria comida, água… na hora do almoço eu tinha terminado de cumprir as exigências dela.  Quando eu falo que meu tempo não era meu, é sério.

As palavras (e as perguntas) nunca pararam na minha cabeça. Mas, sinceramente, me questionei muito se era o caso de ficar falando da Ju no meio da lambança que vivemos. Meu mundo parece tão pequeno dentro desses outros mundos de perdas; minhas tristezas pareciam mesquinhas, diante das tristezas do mundo (eu sei, o mundo já tem tantas tristezas, mas acontece que as minhas tristezas só têm esse mundo pra conversar…). Preferi guardar as palavras e as interrogações dentro de mim mesma, pra ver se lá elas achavam o lugar para algumas respostas. Não, lamento dizer que não acharam (“triste dos que procuram dentro de si respostas, porque lá só há espera….”).

É de espera que precisamos, às vezes, não? Acelerar os processos, como diz minha mestra de Yoga, não adianta nada… o resultado precisa vir do processo. Do processo de viver só o momento que tá acontecendo agora, sem pensar no seguinte. Caraca, tenho que confessar que isso tem se mostrado, nos últimos 40 anos, quase impossível pra mim, mas quando consigo… a diferença é imensa e cristalina.

Isso tudo aplicado nesses dias com a Ju acamada me trouxe novas interrogações. Eu pergunto demais…e as respostas, mesmo as que existem, não ajudam quase nada. É tempo de esperar…

Esperar, por exemplo, que a fisioterapia e a acupuntura (que começa essa semana) tragam algum resultado. Tá bom, não serei pessimista. Claro que já vejo resultados. Ainda é esquisito, afinal não quero a Ju rastejando… ela nasceu pra viver em cima de quatro patas e esse é nosso objetivo. Achamos uma aliada importante, vizinha de Barreirinha, a fisioterapeuta Pâmela, que já foi devidamente conquistada pela Ju, que faz mais festa para ela do que pra mim, às vezes. HAHAHHA.

Conforme a Ju foi melhorando, a impaciência se mostrou na vontade de sair pela casa do jeito que der – o que significa dobrar perigosamente a pata, ficar “sentada” correndo o risco do desequilíbrio, querer se dar banho o tempo todo, querer pegar o pedaço de alguma coisa bem no meio da grama do quintal. Isso sem falar que qualquer movimento que possa me tirar da vista dela provoca uma avalanche de choramingos e tentativas de ir atrás… Isso tudo é avanço, ok? Sim, Ju está avançando! E com isso quer  dar corridão nos passarinhos, quer ir ver o que tá pegando na rua, ficar no portão, quer brincar com o Bizi… difícil conciliar o tempo dela e o meu, e entender que, sim, eles precisam estar separados, ou eu vou pirar! Respira e pensa nos resultados. Entenda,  Adriane, que o tempo é o senhor do tempo.

E agora ele é claro: é tempo de espera, Juju. Pra vc e pra mim. Vamos ver como saimos dessa. Hoje queremos que vc dê uns passos, vai esticar as patas e ‘caminhar’ pela casa. Na primeira tentativa, ela quis bater o recorde dos 50 m rasos…

Pra animar, começamos a semana como começamos os dias, cantarolando: “Acorda pata da Juju, acorda venha caminhar. Acorda pata da Juju, tamo esperando você vir brincar! Acorda rabo da Juju, acorda vamos balançar; acorda rabo da Juju e chama as patas pra gente gingar!”. É, a gente tem que continuar brincando nestes tempos de esperas – e cantar ajuda o tempo passar melhor!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *