La Carne apresenta o repertório de Granada, seu disco mais poderoso, até agora (foto: Divulgação/Edson Kumasawa)
Banda de Osasco mostra as novas músicas hoje no 92 Graus
Adriane Perin
A banda La Carne, de Osasco, está em Curitiba hoje para mostrar o repertório de um dos melhores discos do ano. Granada, quarto trabalho da banda, que se apresenta no Espaço Cultural 92 Graus, ao lado de Folhetim Urbano, Gruvox e Popstars Acid Killers, de São Paulo, tem um nome bem apropriado à história e à postura de Linari, Jorge, Carlos e Chicão. Granada é o sucessor de outro petardo, Desconhece o Rumo mas se Vai, e conseguiu ser ainda mais devastador – ou alentador, dependendo do olhar.
Uma história musical que iniciou em meados dos anos 90, e no começo, lembra Linari, eram os sonhos comuns a todo iniciante de fazer a vida na música, ter seu trabalho reconhecido – também por uma gravadora com força para dar suporte. Mas, o tempo passa, a realidade provoca e depende de cada um, a reação. A do La Carne foi seguir fazendo uma música como ninguém mais faz, de um vigor que namora o violento, calcado numa realidade ou situações mais fáceis ignorar. Nas músicas, Linari – um professor de História que leva pra cima do palco toda sua (ou seria nossa?) fúria, ainda que seja um cara gente boníssima – canta “cenas” que nos contam sobre um mundo que vive nas bordas. As ansiedades, as sacanagens que a vida apronta, o que lhe incomoda, ele transmuta em letras certeiras que explodem e implodem, se jogando na cara com força capaz de derrubar.
Se o compositor e cantor considera os trabalhos anteriores “manifestos”, com este Granada bate à porta uma certa maturidade. “A constante referência às letras me orgulha, claro, mas sempre tive um desejo íntimo que enxergassem no som a mesma ousadia que vejo; e isso, agora ficou muito evidente. Em comparação aos outros, desta vez repararam mais nisso também”, observa, com razão, afinal é o trio de instrumentistas feras que dá as bases tão perfeitas, com um equilíbrio tenso, para as histórias que Linari canta. Ajudou para isso, acredita o compositor, a produção de Bill Reinikova, amigo do tempo de escola e integrado ao circuito Grammy. “Grande parte do mérito deste disco é dele”, avalia, tentando se “eximir da culpa”.
Antes de mais nada, no entanto, teve a confiança de Wellington Dias, do Zine Gramophone, um seguidor da banda que motivou os rapazes. “Os anteriores foram feitos num “esquema guerrilha”, diz. Bom Dia Barbárie e Desconhece o Rumo Mas se Vai, em sua visão, são discos mais de um gueto político que artístico. “Na época não era tão evidente que as gravadoras estavam falidas, hoje é bem chique e todo mundo fala isso. Depois que gravamos o primeiro e não tivemos o retorno que imaginávamos nos perguntamos e agora?”, lembra. “Pra gente sempre foi muito mais prazeroso tocar junto do que fazer planos profissionais. E não somos virtuoses, viemos do punk rock, somos de pegar estrada junto”. Se a gravadora esperada inicialmente não veio, vieram fãs que espalharam a boa nova sobre, não uma nova “bandinha indie”, mas uma banda de verdade. Que faz música pra gente grande! Que não surfa na moda, não tem uma moçoila simpática na linha de frente, nem rapazes com seus cabelinhos bem penteados, mas tem o que ainda interessa para muita gente: música de verdade, que acerta em cheio.
Granada – lançado pelo selo Senhor F – está com boa repercussão “nesse nosso pequeno mercado alternativo. Recebemos muitas palavras carinhosas”.
Já a “outra mídia”, é indiferente. “Se voce me perguntar porque, não vou te responder porque não convém a mim julgar. É evidente que no meu íntimo penso mil e uma coisas. Imagino que não vejam relevância no que fazemos”, investiga, com a tranquilidade absoluta que vem da segurança de quem sabe que é isso que quer.
Certa vez um amigo puxou papo sobre o La Carne com um desses grandes jornalistas nacionais, que já havia falado bem da banda, conta Linari. Ele disse que o tempo do La Carne passou. “Falando bem desapaixonadamente, isso tem sentido. A gente sempre foi ruim de mídia”, diz. Postura assumida no texto pessoal do encarte do disco anterior, que com suas palavras deixava às claras as intenções. La Carne não nasceu para fazer tipo. Muito menos pra frequentar. Hoje, Linari pondera. “Não sei se foi correto, mas na época havia muita pressão em cima da gente e escrevi como um manifesto de intenções. Porque é muito fácil alguém bater na testa da gente carimbos incomodos, como uma banda injustiçada e detesto isso”, diz, comentando entrevista que viu recentemente de Tom Zé, que o fez chorar. “Confesso, me identifiquei quando ele disse que ninguém tem culpa de seu ostracismo, porque ele sempre teve um pouco de vergonha de ser artista. Porque de onde ele veio, bater no peito e dizer que é artista é complicado. Talvez isso revele essa inabilidade de se vender”, pondera.
La Carne toca com velhos amigos daqui. Folhetim Urbano está em vias de terminar seu disco de estreia e Gruvox se prepara para os primeiros shows em Sampa. Flavio Jacobsen embarca naquela direção logo após o show. Ele também vai aproveitar para terminar dois clipes da Gruvox, assinados por Renato Larini, um músico curitibano que voltou a pouco de Londres e agora vivendo em São Paulo. “Onde a fome espanto” e “demasiadamente humano” foram filmados em Londres. A noite vale ainda para conhecer o som da Popstars Acid Killers.
Serviço
La Carne, Popstars Acid Killers, Folhetim Urbano e Gruvox. Dia 6. Espaço Cultural 92 Graus
(Rua Des. Benvindo Valente, 280 – S. Francisco) R$10 e R$5 (mulheres até as 23h)
sou mais a beyoncê… esse linari não tá com nada, hehehehe
Eu vou Eu vou
como foram os show? news please!