Sempre bom reencontrar aquelas relíquias que não estavam esquecidas, mas quietas no canto delas só esperando o próximo momento. MAGNÉTICOSs foi um dos projetos envolvendo uma das duplas mais ativas que já conheci da cena musical curitibana, Jr Ferreira e Marcos Gusso, junto de Germano e Kako Louis, em períodos diferentes. O ano era 2000 – lá se vão 15 anos!!!! – e os Magnéticoss era mais um dos dois projetos da época dessa dupla incansável que tive o prazer de conhecer lá em um certo porão da Visconde do Rio Branco. Acho que naquele começo de década o 92 já nem era mais lá no seu mais clássico endereço, sinceramente não lembro das informações com precisão.
Ter dois cds de uma banda curitibana em casa não é novidade, pois muitas vezes ganhamos dois por conta dos trabalhos. Mas, passando os olhos nas prateleiras dos sons curitibanos me dei conta que os dois discos “Elektro”, segundo lançamento do Magnéticoss não são iguais. A cor é diferente. Intrigada, bastou pegar o encarte pra sentir a textura diferente. Um deles parece ser um boneco, com papel mais grosso e a foto da capa mais poluída. Continuei intrigada até notar que um tem a marca da FCC, ou seja, foi feito pela lei de incentivo. Explicado. Adoro esse charme de ter esse tipo de ‘bootleg’.
Do mesmo jeito que sinto um imenso orgulho de ter participado de um projeto como este, mesmo que ele tenha, por puro descuido das pessoas, ficado meio esquecido, talvez eclipsado pela avalanche de produção musical deste trio. Só isso pode explicar que canções divinas como “Jazzo” tenham ficado praticamente relegadas ao esquecimento.
“eu já pintei o céu, o set e a lua; eu já cruzei o mar, desertos, oceanos, sem ser visto por ninguém, sem ser visto por aí. Ah! Nem mesmo eu me vi”
Mas, eu não esqueço – e adoro lembrar, eu confesso. Vejo nessas bem traçadas linhas musicais até mesmo uma conexão com o momento que passa, mais uma vez, esse guerreiro chamado JR Ferreira, em sua incansável luta pelo 92 Graus, em outra tentativa de manter essa chama acesa.Jazzo fecha o disco com primor e pra mim é das mais belas canções feitas pelo Jr.
De quebra, esse disco me lembra de outra pessoa muito especial, Marcelo Borges. Lembro da gravação do documentário que acompanha o Cd, em VHS.
A gente caminhando por alguns pontos da cidade fazendo as entrevistas. A cidade passando ao redor, os carros, a chuva, uma praça, a casa do campina… Em 2000 eram quinze anos a menos na nossa vida e estávamos em um auge, podíamos muito e havia sim uma certa confiança de que toda essa história, a nossa história – nossa e de toda as pessoas que conhecemos ao longo daqueles últimos oito anos. Para mim – aquela menina, parte de um grupo de jornalistas recém formados, que reuniu os compactos do selo Bloody e foi divulgar a história nas redações que nem conhecia ainda – foi incrível fazer parte deste projeto que tem canções fortes e belas, que mostram a verve compositora – em português – de JR Ferreira, que, aliás, me parece ainda pouco explorada. E inclusive a interpretação, a intenção musical muda neste elektro, sem aquela pegada bem humorada que também é uma marca dele. Amo July et Joe, mas, definitivamente, gosto muito do JR cantando em português! E em especial as canções deste disco. Ouvindo agora, nestes últimos dias em especial, não resisto à tentação de afirmar que este disco ocupa um lugar único na trajetória de JR.
Por canções como S.O.S…
“Fazendo o que quero e até alcançando alguma satisfação, misturada com a fumaça do escape sonoro do alto falante. Acordo pra vida que quero, acordes que gritam: “Socorro”. O mundo vai mal. mas com quinze em cada perna a vida me parece eterna, dentro do meu terno. mesmo sendo de linho, fazendo o que quero, sempre saio da linha que divide a estrada”. Cada som que exala da batida constante que que bomba o sangue e faz a diferença naquelas horas em que você vem me ver tocar, cantor couro um blue4s, com meu terno de linho temperado com a fumada do cigarro, no rádio do seu carro, te convido para mais uma noite de pura satisfação”
olha que legal isso, com direito a duas presenças bastante importantes, Vitor França, do Estúdio Solo, espaço que tem vínculos importantíssimos com algumas gerações de músicos curitibanos, onde Elektro foi gravado; e Fabio Elias… ah, puxa, esse doc tem que ser digitalizado todo ele, agora quero assistir tudo e não tenho mais video cassete que funcione.
ou a canção de aniversário (?) que mais gosto, do Coelho, Parabéns:
Hoje você vai ter tudo que sempre quis, basta os olhos fechar e você verá. hoje é o seu dia, que dia mais feliz e quando os olhos abrir irão brilhar!”
Outra música bacana é Ontem, mais uma composição do JR. Começa e penso: parece Reles… Adivinha quem tocou uma guita e, ao que tudo indica, fez uns uhu, também???? Um tal de Fabiote (naquele tempo grafado com “i”).
E mais uma do JR, Slow Motion,
“É meio dia, faz um baita sol, estou preso no trânsito, passando mal. se os vidros eu abro, logo fica pior, que o recondicionado ar, admiral. Preso no trânsito, eu vou, em slow motion, technicolor. Apesar de tudo isso eu nada posso fazer. apenas sentar e ouvir minha canção preferida e ver tudo rodar ao meu redor e ver você passar perto de mim”.
São sons que trazem as marcas dos seus criadores. ‘Brinquedo’ tem a pegada do Jr…. ‘Parabéns’, é a cara do Coelho, assim como a divertida ‘Havaiana’, do Coelho, que rendeu um clipe hilário, estrelado pelo próprio. Na época, conta JR, com quem precisei tirar umas dúvidas, ele tinha também o Limbonautas. “Aí o Magnéticoss acabou e fiquei só no Limbo”… hahaha, se tem um lugar que não é pra vc é o limbo, JR…. Pra ele, aliás, este disco, Elektro, ficou melhor que o primeiro – do qual eu sinceramente nem lembrava – La Kukaracha wave music, lançado pela Excelente/ Polygram. Eu não tenho dúvida alguma, JR, da superioridade artística e do quanto este Elektro é mais fiel ao que vc e Coelho, os dois cujo trabalho conheço, criaram.
É, como diz o ‘mestre’ JR Ferreira, “Agora lembro… é só uma questão de refrescar as memórias”
… e quando o disco acabar, não se engane, disco bom não acaba.
https://discoteca.bandcamp.com/album/elektro