De Inverno Comunicação

Jornal do Estado/Bem Paraná


O pianista Gebran Sabbag, o trombonista Raul Souza (foto) e o maestro Waltel Branco: músicos que ajudaram a construir, aqui de Curitiba ou buscando outros espaços, a história da música brasileira (foto: Divulgação)

É essa história que ganha destaque no documentário Música Subterrânea

Adriane Perin

La Vie en Rose, Marrocos, Moulin Rouge, King’s Club, Gracefull e o Clube Tropical. Se você viveu as décadas de 1950 e 60 em Curitiba e gostava de boa música, é possível que estes nomes estejam revolvendo suas lembranças. São nomes de algumas das casas de jazz da efervescente capital paranaense em meados do século passado. Uma cena que era forte e seguiu até os dias de hoje cheia de histórias que ficam na memória de poucos. Mas, cada vez, pode acreditar caro leitor, tem gente de olho nessa que é a “nossa história”. Um desses núcleos é o projeto Olho Vivo, de Luciano Coelho, cujo acervo de pesquisa fica cada vez mais precioso, e que agora se debruçou no jazz produzido em Curitiba. Um dos resultados é o documentário Música Subterrânea, assinado por Coelho, cuja exibição de lançamento será amanhã, no Wonka, na noite de jazz do bar.

A bonança daqueles anos na cidade refletia um dos momentos áureos da economia local e suas grandes safras de café, o chamado “ouro verde”. O movimento atraia músicos de vários lugares do país e teve palco principalmente nas boates da cidade, onde o repertório habitual começou a ser substituído pelo estilo musical norte-americano. O assunto é de interesse de Luciano há muito tempo, fã de jazz que é, e um observador próximo desse circuito que, me parece, é ainda mais maltratado, em certo sentido, que o das bandas independentes pelo seu público potencial. Mas, que tem um público fiel que acompanha os “êxodos” de seus instrumentistas pela cidade.

“A maior parte dos músicos que aparecem no trabalho eu já vi tocar várias vezes e sempre gostei muito de assisti-los e de perceber a qualidade e, também, que como em outras áreas, Curitiba tem uma peculiaridade: tem os artistas que ficaram e os que foram embora”, comenta. Um dos primeiros casos famosos é de Airto Moreira, que passou três dos anos muito significativos de sua formação musical, na cidade. “Ele coloca isso no filme. É um cara super importante para a música mundial, tocou no grupo de Miles Davis”, acentua Coelho. Um caso oposto ao dele, é o do pianista Gebran Sabbag, hoje uma espécie de eminência parda do jazz local.

“Um super pianista citado por todos que entrevistei e que ficou aqui e foi praticamente esquecido por muito tempo. Uma pessoa hoje ainda muito desconhecida e que não pede reconhecimento da arte que faz. O filme acompanha essa geração do Gebran, da época em que havia muita vida noturna e muita música nas boates da cidade. O próprio Gebran diz que eram umas 20 casas”, comenta o documentarista que, de papo informal em papo informal entre os músicos que gravou, reconstruiu essa história.
Moreira é um conhecido, mas tem um outro “estranho”, que começa a ser notado e não aqui na cidade, apenas. Um tal Guarany Nogueira. “Cada vez mais se comenta que a batida da bateria da bossa nova foi criada por aqui por este músico que tocava na banda de Waltel Branco e Gebran”, conta o diretor. “Ele e o Waltel foram para o Rio e o Guarany foi tocar com João Gilberto e agora isso está vindo à tona. Quem conta no nosso filme é o Robertinho Silva, um dos maiores bateristas brasileiros”, situa Luciano, emendando outro porém. “Isso sem falar no Waltel. Nem todos sabem mas o arranjo de “Chega de Saudade” não é do Tom Jobim, não; é dele. É que a gente tem ainda uma imagem de Brasil como sendo o Rio de Janeiro”.

O documentário foi possível pelo Fundo Municipal via edital de patrimônio imaterial, o que é muito interessante. Com verba pública, foi possível fazer a pesquisa coordenada por Débora Aguilham. Basicamente, explica Luciano, foram longas conversas, que renderam 30 horas que agora ele está sofrendo para transformar em 1h50. Não dá para perder a exibição de amanhã, porque não tem outra marcada. Primeiro, terminar o trabalho, depois agilizar uma agenda para que ele seja mais conhecido.

Foram muitos momentos comoventes no encontro com cinco gerações de músicos locais, conta ele, um deles, a conversa com Scarlate, um (super, na definição de Luciano) guitarrista que está bem velhinho e que não tem destaque atualmente. “Mas a maneira como ele conta que veio para Curitibapara ser faxineiro… as histórias lembradas das madrugadas no Bar do Saul…”

Serviço
Lançamento de Música Subterrânea , com banda Wonka Jazz Project e jam session. Dia 14 às 21h. Ingressos a confirmar. Wonka Bar (Rua Trajano Reis, 326. Informações: (41) 3015-1592

Respostas de 3

  1. O seu Gebran é meu vizinho. Às vezes ele faz uns saraus pros amigos e vou te contar, a música que vem da casa dele é inacreditável de boa. Eu sento na calçada com a Nina e ficamos ouvindo. O piano fica bem do lado da minha garagem. Ano passado fiquei uns 15 minutos embasbacada ouvindo uma desconstrução de… O Pife. Vou cobrar ingresso da minha calçada! Só tem uma coisa, eu nunca sei se é o Gebran ou o filho dele, que dizem ser ainda melhor que o pai, tocando (sabe que meu chefe é dessa turma e toca bateria?). Bjks aos dois.

  2. que legal hem Tina. saraus por tabela em casa com esse time não é pra qualquer um não. agora só falta vc sair da toca e ir ver esses caras tocarem na naite. vale a pena.

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