De Inverno Comunicação

Conheci o Claudio Pimentel primeiro como vocalista, letrista da Plêiade, depois como vendedor da 801 Discos e na sequência  como dono e balconista do Korova.

Com a Plêiade, ele lançou um dos melhores e mais bem acabados registros do rock feito em Curitiba – “A Descoberta”, de 1998 – que tinha na banda também o piano de Marcelo Torrone em uma das mais belas canções já feitas por uma banda curitibana, na minha modesta opinão – “Orações”.

Conhecemos a Plêiade antes disso, no início dos anos 90, e logo chamou a atenção o fato de que junto com Relespública e Acrilírico – era das poucas bandas da época que arriscava cantar no idioma pátrio – em uma cena em que a maioria das bandas havia adotado o inglês. E a banda já se destacava pelas letras de Claudião – claramente inspiradas em literatura beat, poesia, cinema – e pela interpretação rasgada dele no palco, em contraste com a atitude ensimesmada do shoegaze-grunge que predominava no underground de então.

A 801 é um capítulo a parte nessa história. mais do que uma loja de discos, se tornou um verdadeiro ponto de encontro do underground curitibano da época e de certa forma um “centro cultural”. Lá por exemplo, acompanhei a gravação dos primeiros “Ciclojans” – que começou como segmento do programa Caleidoscópio na rádio Educativa e depois migrou para a televisão pelas mãos de Cyro Ridal. Lembro especialmente da gravação com o pessoal do The Charts (SP), com quem a gente ainda fez uma jam histórica no apto em que moravamos no edifício Tijucas, centrão de Curitiba.

Na 801 era muito legal a relação da gente com os “vendedores” – além do Claudião, o Torrone e o Horácio. Cansei de comprar discos lá no escuro, sem ter a mínima ideia do que tava levando confiando nas dicas, na sensibilidade e no bom gosto dos caras, porque parecia que eles interpretavam o que a gente ia gostar, e quase que invariavelmente acertavam na mosca. foi lá que comprei meus primeiros discos do Tindersticks, Morphine, Mojave 3 e uma pá de coisa que ouço e está nos meus preferidos desde então até hoje e pra sempre.

E ele ainda teve o Korova, saudoso bar lendário do underground curitibano do final dos anos 90, começo dos 2000, onde toquei muito com o OAEOZ, fiz e vi muitos shows memoráveis, como  a Íris.

E agora o Claudião está de volta com Cláudio Pimentel e os Misantropos – “Psiconáutica”. E o cara já começa o disco com um direto no fígado: “estou ficando antigo/apegado ao farrapo/agarrado ao obsoleto/acomodado ao usual” (Névoa).

E depois emenda com um cruzado no queixo: “é que hoje você só me faz lembrar a monotonia dos dias sem surpresa/enquanto sentamos mudos lado a lado”.

E ainda tem uma gravação de “A árvore” – música que ele tocou com a Plêiade no primeiro Rock De Inverno, em 2000, no Circus – em interpretação que está imortalizada no vídeo documentário do festival feito pelo Marcelo Borges.

Ouvindo esse disco eu me sinto feliz por ver um cara como o Claudião continuar produzindo música de tanta qualidade, independente de modinhas ou expectativas, do chororô e blá blá blá inútil de cena. Simplesmente fazendo o som dele – belas canções, bem feitas, com um texto de alto nível e bom gosto extremo em timbres e climas. Música de gente grande, que não deve nada pra ninguém e nem está em busca de aprovação ou hype. Simplesmente existe e é o que é. E pelo menos pra mim, é bom pra caramba! Porque é música de verdade feita por gente de verdade. Que faz a inexorável passagem do tempo na nossa vida parecer fazer mais sentido, mesmo que isso seja uma ilusão.

Parabéns Claudião – Você conseguiu de novo cara!

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *