Um ano atrás provoquei o Ivan a voltar a fazer um som. Ele devolveu na mesma moeda: ‘ok, mas você também vai reativar o No Susi’. Ele foi logo mandando ver em três novas parcerias, poucos tempos depois. Eu mandei um olá para alguém que está em outro continente e, assim, o duo No Susi passou a se ‘encontrar’ uma vez por semana. No Susi sou eu (baixo, letras e backing) e a Lucianna Raitani Abbott (voz, violão, guitarra, letras). Atualmente, eu em Curitiba; ela em Londres. Entre muitas conversas, tentativas de se entender com o baixo e com o violão separadas pelo oceano, começamos a buscar possibilidades de fazer um som. Zoom, Whats, Face, Skype…era preciso escolher a plataforma que minimizasse o maldito do delay, que complicava tudo.
Em tempo: No Susi nasceu nos idos dos anos 2000, em uma gig na casa em que eu e Ivan morávamos, no Ahú de Baixo, a Casa Azul. Um dia, com vários amigos músicos na casa, a Lu Raitani começou a ocupação e levou com ela as outras mulheres do ambiente. Eu, confesso, estava de mal humor e entrei na brincadeira minutos depois, quando Ivan, literalmente, colocou um microfone na minha frente. Éramos quatro (ou cinco) mulheres naquele dia, amigos e amigas próximos – eles, músicos. Quando um deles se deu conta que só tinha sobrado ele entre elas, também me deu a deixa para ocupar o lugar que faltava: “Pois é, pode ir passando esse baixo aí…”, o que ele fez na hora, sem hesitar! Segundo eles ficamos tempão ali, até que nos vimos sem cerveja e alguém resmungou no microfone “cadê a minha cerveja”. Aquilo soou instantaneamente com melodia e engatamos em coro de “cadê a minha cerveja lalala”, ao que eles responderam correndo com a bebidinha pra suas musas. Hahahaha. Foi de-mais de engraçado e legal!!! Lembro todos rindo e falando ao mesmo tempo na varandinha da casa. Saímos dali com uma música e o nome da banda. Era 2005.
No Susi – no clima, não somos suas bonequinhas – é uma referência pessoal minha, criança que fui nos anos 70 que teve três bonecas Susi, a versão pobrinha da Estrela pra Barbie – não me vejo em uma banda com referência à barbie, mas a Susi me cobriu como uma luva.
Resumindo, eu e Lu levamos a história adiante. Comprei um baixo e seguimos ‘tocando’ sem ter a menor ideia de que notas eram… sério, a gente não sabia nada. Lembro de estar sentada no chão fazendo um ‘barulho’, quando a Lu começou a cantarolar algo que eu tinha escrito em resposta a uma conversa nossa: nascia a primeira canção do duo No Susi com letra minha: “Sobre Flores e Canções”. A partir dali, gravei nossos encontros embalados a confidências, investigações sobre as nossas vidas. Lu era uma jovem dramaturga promissora. Eu, repórter de cultura e produtora. Nunca, jamais, nunquinha pensei em ter banda, subir em palco essas coisas. Mas, algo aconteceu naquela garagem onde ela improvisava e eu ficava embasbacada com a forma como ela transcendia tudo, devolvendo sentimentos em forma de músicas muito pessoais, viscerais, rasgadas, conversas de mulheres, alegrias, dores, nossas ‘histórias de Marias’, enfim. Dessa fase, apenas duas composições finalizadas são minhas. O resto tivemos que tirar as letras porque a Lu as criava ali na minha frente, na nossa catarse de mulheres meninas se descobrindo e se encontrando.
Chegamos a gravar a pré-produção de um EP, com o Luigi Castell. Mas, Lu voltou pra longe pra sarar seus machucados e eu fiquei lambendo os meus. O ep “Copo de Vinho”, ficou guardado.
Aí, chega esse 2020 estranho, a gente dentro de casa, eu sem trabalho. E não mais que de repente começamos a nos entender com a distância, ignorar o delay, e as manhãs de quinta-feira ficaram mais legais. Quando nos demos conta, várias músicas novas, agora com letras minhas – e as músicas considero todas da Lu. Virou rotina acordar e ver uma nova mensagem: “amora, fiz uma musiquinha nova com o que vc escreveu…” Fui criando coragem de mostrar mais e a coisa foi…Lá pelas tantas, a Lu enviou mensagem. “Driquinha, achei um programinha aqui, de celular muito bacana…” Era o BandLab e é com ele, no celular, que temos gravado desde então, o que imaginamos ser uma pré-produção. Retomamos canções antigas, como “Gurias no Jardim de Amoras”, finalizada 15 anos depois de seus primeiros passos e aí, além de umas que estão nascendo, vieram… “Tantas Vontades”, “Camomila”, “Toda Manhã (Tô tão feliz!), “Quinta-feira”, “silêncio, Último Inverno e….
Um belo dia ela chega com “Cansaço”, um comentário que fiz pelo whats, que me soa muito perfeito para como me sinto nesses tempos, desde antes da pandemia, mas que foi ficando mais exacerbado. Quando ouvi a Lu cantando aquelas palavras que eu nem lembrava que tinha escrito… poxa… cara, poucas coisas são mais especiais do que ouvir alguém cantando o que vc escreveu.
É engraçado, porque eu sempre fui um tanto insegura com as coisas que eu faço – sou infinitamente melhor pra divulgar os outros… Mas, com No Susi foi diferente desde o começo. Gostei desde o começo. E sempre deixei claro que não tinha pretensão alguma de ir pra palco – continuo me sentindo assim. Só queria – e só quero – tocar com ela.
Sobre o vídeo – então, chegamos à última terça feira (18/5). Eu já estava querendo postar essa gravação de “Cansaço”. Pra marcar um ano do reencontro comentei que a gente podia tentar usar alguma imagem pra não postar só o áudio. Começamos a falar sobre programas pra fazer algo simples e rápido… “Peraí, vai falando aí que vou fazer uns testes aqui”. Fiquei ali falando sobre imagens de Londres e do quintal e coisa e tal…
É essa conversa que virou o ‘clipe’, feito pela Lu em…não mais que uns 20 minutos…
Ainda sobre a música – Cansaço é, especialmente, sobre a falta que sinto dos meus amigos, das nossas tardes de som, de churras, de bate bocas até de madrugada. Mas, também sobre sentir-se meio desesperançada com tudo que virou esse mundo, essa vida esquisita, essas pessoas cheias de certezas enquanto sinto cada vez mais incertezas rondando… É uma declaração de amor aos meus/nossos amigos.
…me emocionou ouvir a primeira vez. Continua me emocionando. E por isso que eu decidi que queria mostrar, quero compartilhar No Susi com vocês e, principalmente, quero que meus amigos, de quem já ‘ganhei’ tantas canções lindas, saibam a falta que eles fazem nesses meus dias – porque da minha vida eles nunca saíram!
Cansaço
Letra: Adri Perin. Música: No Susi (Lu e Adri)
Muita saudade
De você
Muita saudade
Muita saudade
De você, da minha casa
De ficar em casa
Cansada, cansada
Egos, egos, egos
Pessoas que não conseguem
Mais olhar pra mais nada
É a sensação que tenho
Algumas vezes
Mas talvez seja só cansaço
Só cansaço
Só cansaço
Estou sentindo muita falta
De ver os meus amigos
De ver os meu amigos
Mas talvez seja só cansaço
Ou só saudades
Ou só cansaço do ego, dos olhos e das pessoas
Mas é só uma sensação