De Inverno Comunicação

Jornal do Estado/ Bem Paraná

O músico Flávio Basso, o Júpiter Maça, faz show hoje no Era Só o Que Faltava (foto: Divulgação/Cisco Vasques)

O gaúcho Flávio Basso apresenta sua nova banda a Curitiba, com repertório que passa por todos os discos e inéditas

Adriane Perin

Quando um músico constroi uma história que conquista pessoas, seu repertório acaba por ganhar uma interferência externa, digamos assim. Algumas músicas não podem faltar nos shows. É o caso de Flavio Basso. Ou Jupiter Apple. Ou Júpiter Maçã. O gaúcho, que começou a fazer história lá nos anos 80 nas irreverentes TNT e Cascavelletes, é um desses casos. E, para nossa sorte, não importa de qual disco ou época é sua música, porque o bom gosto musical é a regra em resultados que podem ter uma cara mais experimental ou mais pop, dependendo do que ele sente. A cada novo trabalho, esse cara engrossa sua lista de boas canções e o momento atual não parece diferente, como se pode conferir no single que acaba de lançar em sua página no my space (www.myspace.com.br/jupiterapple). Gregorian Fish tem um clima David Bowie, me lembrou Roxy Music. Outro trunfo de Júpiter Maçã são as sacadas regionais em referências a lugares, que aparecem em suas músicas sem que jamais as façam soar datadas, ao contrário, promovem aproximação. Golpe de mestre.
Hoje ele apresenta à Curitiba, na terceira edição do I_CWB, no Era Só o Que Faltava, sua nova banda, que tem as “estrelas” Thunderbird (aquele mesmo ex-VJ e vocalista do escrachado Devotos de Nossa Senhora Aparecida) no baixo, e Astonauta Pinguim no piano e órgão, com a responsa de dar aquele toque retrô que falta a um show do Júpiter. Ele também apresenta uma performance solo. A banda se completa com Dustan Galas (guitarra) e Felipe Maia (bateria). “A combinação está sendo bem boa e traduz o que quero passar no momento”, disse Basso, em uma animada conversa por telefone. Entre as músicas que não podem faltar no repertório – que terá também músicas inéditas – ele cita “Gregórian Fish” e “Um Lugar do Caralho”. Oba, essa é um clássico. Mas, e: “Eu e minha ex”, Miss Lexotan 6mg Garota .., “As Tortas e as Cucas”… ishi… essa lista é grande!

Jornal do Estado — Você está trabalhando em novo disco. O que podemos esperar desta vez?

Júpiter — O single já tá lançado virtualmente porque a música que abre tá no meu My Space. As gravações do álbum ainda tô no processo de criação. Na sequência virá o vinil, um compacto, ainda para este ano. Gosto dessa prova física, especialmente para o formato de single gosto de usar o compacto, que faço pela Monstro Discos.

JE — Você já fez discos pop, experimental; cantou em português em inglês; quando se esperava um tipo de som, você vio com outro… esse trabalho que está nascendo?
Júpiter — Acho que cada vez mais venho completando e sintetizando o disco anterior. A Tarde na Fruteira, o mais recente, já sintetiza os três anteriores. Na verdade, essa coisa de correr contra o que se esperava se deu mais nos meus primeiros discos. E aconteceu mesmo. São coisas que eu tenho que descobrir a meu respeito – e isso é saudável. Claro, que sempre coloco um plus, algo fresco à carga do que já estava no trabalho anterior. Me sinto cada vez mais completo e pleno como compositor.

JE — Legal essa postura longe da falsa modéstia de dizer que “é um trabalho despretencioso”.
Júpiter — Mas é a verdade. Me sinto assim. Tenho um estilo que já era definido e tende a afunilar, cada vez mais genuinamente Jupiter Maçã. Você ouve e sabe que se trata do meu disco, mesmo que sejam trabalhos com várias sonoridades diferentes, atitudes atípicas ou coisas que não tinha feito anteriormente.

JE — Desde aquele começo com TNT e Cascavelletes até agora…
Júpiter — O que disse não quer dizer que fosse inseguro ou imatudo na fase inicial. Nunca fui inseguro em relação ao que lancei. Essa segurança é que me move e abre para o exercício da continuidade. Mas, percebo, olhando pra trás que cada vez mais tem uma assinatura, que era de fato aquilo lá mesmo, desde o começo.

JE— Você – e alguns outros músicos da sua geração oitentista do Rio Grande do Sul – é um cara que influenciou muita gente e está entre os que deram os primeiros passos do que hoje chamamos de cena independente brasileira. Você se sente uma referência? Como é isso de ser pioneiro?

Júpiter — Independente eu sou. Mas, o independente cresceu e não é mais independente. Tomou vida própria em tamanho e dimensão. Se você pensar em termos de mainstream, acabei sendo um “main” que foi formado, que emergiu das profundezasa do indie, do underground, mas tomou proporções tais, que, agora, a essência, seja indie ou underground o termo que se aplique, já tem uma notoriedade outra. E lido com isso, no momento, como período transitório, porque sinto que venho de uma espécie de transição para que um número maior de pessoas tenha acesso. Isso tá acontecendo com meu trabalho.

JE — Por falar nos gaúchos já viu o Tenente Cascavel, formação que une ex-Cascavelletes e ex TNTs? Você chegou a ser convidado?
Júpiter — Fui convidado a assistir e fui comunicado com alegria do que acontecia, mas não tive a chance de ver ainda. Acho interessante um trabalho de resgate como este, mas eu não faria. Porque a mim incomoda viver do passado e, assim, não to dizendo que eles estão vivendo no passado, mas estão apegados por demais. Estão recriando uma sonoridade que eu já vivi intensamente. Seria difícil vivê-la como se fosse meu dia-a-dia. Mas, eles estão indo muito bem.

JE — Como ouvinte qual é sua relação com a música. Você gosta ouvir o que tá rolando agora?
Júpiter — Gosto sim, mas aconteceu de neste período estar completamente rodeado pelas minhas ideias, porque estou tentando organiza-las. Não que esteja desorganizado, mas estou dando nomes, encarando facetas de cada um dos elementos meus. E isso dá um trabalho. Algumas mudam, outras ficam mais em evidência em algum momento; outras que estavam esquecidas mostram sua importância.

JE — Tem algo que você citaria desta nova cena?
Júpiter— Diria que toda a cena está legal. Essa neo-mod que tem surgido é forte e gosto dos Faichecleres, por exemplo. Eles fazem várias alusões a Sétima Efervescência.

JE — Teus discos são bem resolvidos, acho que por isso você às vezes dá um intervalo maior para lançá-los – e por isso também aquela segurança que falou antes. Cada disco tem o tempo que precisa.

Júpiter — Só foram lançados albuns meus nos quais cheguei ao fim. Realmente é uma prova que me coloco, um dogma. Um disco só vem à tona se traduzir exatamente o que to querendo. Senão seria um desconforto muito grande e dificil de lidar artisticamente. E é o que você falou mesmo: cada um teve o tempo que precisava. Vejo que você conhece bem meu trabalho. Às vezes pode parecer que foi tempo demais, mas acaba saindo, uma vez que eu esteja completamente satisfeito.

JE — E sua relação com a crítica? Não tens muito que reclamar, você é “bem criticado”, né?
Júpiter — É sempre uma surpresa o que vão achar. Eu procuro ficar tranquilo porque é como disse: tem que passar por mim. Uma vez aprovado por mim tudo que tenho que fazer e ficar à vontade, porque afinal de contas fiz o que quis fazer.

JE — Uma Tarde na Fruteira foi lançado no exterior. Como vai a carreira internacional?
Júpiter— É, pela Elephant Records, gravadora espanhola com abrangência em outros países europeus. A crítica tem sido bastante generosa, meus discos estão sendo festejados, o que é lisonjeante. Infelizmente não estou acompanhando de perto, por isso os planos de fazer uma turnê. Mas por hora é planejamento. Issos ainda é recente de certa forma, dois anos de lançamento no exterior. Fiz uma vez um show em Londres, que foi muito legal. Com muitos ingleses e toquei “Marchinha Psicótica do Dr Soup”, que é toda em portuguuês e a letra é o forte, com longas estrofes, sem refrão. E eles realmente deliraram. Acho que é o formato de marchinha, a sonoridade.

JE — E sua postura com internet gravadoras e esses assuntos todos que vivem em voga?
Júpiter — A internet ajuda, mas também atrapalha em alguns pontos. Moeda com seus dois lados. Eu particularmente tenho lavado minhas mãos. Tenho todo um processo criativo, um trabalho que envolve muitos sentimentos, toda fase de composição até chegar a hora de expor o trabalho finalizado. E, aí, já não cabe mais a mim decidir ou ter certeza do que vai ser feito com isso pelo público. É assim que tenho encarado.

JE — Mas você tem um contato direto com os fãs pela internet?
Júpiter — Não tenho. Mas sou muito acessado e tenho consciência que sou um sucesso de internet. Coloco tudo e acabam sendo coisas bastante acessadas?

JE — Não está na hora de um DVD?
Júpiter — Existem planos, mas nada de fato agendado. Mas, concordo que um DVD seria bem vindo.

Serviço
3ª edição do I_CWB – Júpiter Maça, Astronauta Pinguin, Djs Our Gang, Banzai, Delta Cokers e intervenções de rasputines.
Dia 29 R$15.
ESOQF (Av. Rep. Argentina, 1334)
Informações: 41 33420826.

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