Catarina se agarra nas bordas tentando não afundar totalmente. Hoje, acordou melhor, mas ontem ainda sentia aquele enjôo horroroso – boca do estômago em pânico, por alguma coisa esquisita que se esconde tão dentro dela que nem ela mesma consegue saber o que é. Mas quinta, estava pior. Só que aqueles olhos verdes que o encantaram há quase 40 anos voltaram com todo o brilho, enchendo o coração de uma alegria que há tanto andava longe. Sentou no meio do quintal e só chorou. Só chorou, balbuciando sentimentos. Medo, saudade, amor, solidão, um querer que quase explode o peito, aberto, à mostra, arranhado, machucado, mas já pronto pra encarar outra. “Seu peito doi e o sol começa a te envelhecer. De repente voce já não tem mais 15 anos e continua sozinho. Bem mais do que antes. E é do medo que eu sinto falta, do teu zelo, da tua calma”.
Ele disse pra ela hoje de manhã que está voltando aos anos 70. Ano fatídico. Pra Catarina. Pras Catarinas. E pra não Catarinas também. Mas, sua voz era de quem está pronto para outro passeio no meio daquelas lindas árvores. Aliás, por falar nisso, ontem foi o Dia da árvore, pra Catarina todos os dias são dias das arvores, e ela lembrou delas novamente, ontem, quando passava por aquela bela praça esquecida diante da antiga estação. Queria parar, sentar, conversar com elas, mas olhares estranhos não deixaram. Antigamente, ela ganhava mudas de árvores e esperou isso outra vez. Mas nada. Daí lembrou dele, que gosta de ir para o meio do mato quando está triste e também quando está bem. Ela também. Pensa, às vezes, que foi árvore em alguma outra encarnação. Ou então uma bruxa que vivia numa floresta encantada. Daquelas que dão medo e acolhem, que saltam dos livros para abrir capoeiras na vida da gente – e também pra manter tudo bem fechado sem um raio de sol quando é preciso. Sentiu uma puta saudade do tempo em que ia com ele para serra tão graciosa em suas curvas e sombras, fazer um churrasquinho segurando o guarda-chuva. É, a chuva não era páreo para eles, naquela época. Catarina também voltou a 1970 ontem. E hoje de manhã. Mas, agora está volta a 2009. Melhor, parece. Ouvindo suas músicas e outra vez encontrando ali as palavras. Não cansa nunca. E isso pode ser um problema. Voltar aos anos 70 pode ser uma alternativa. Mas, não dá mais. É aqui, o agora. E Catarina, então, fica com essa saudade boa no peito que faz parar o trabalho para conversar com ele. Esse cara apaixonado. Que a comove, tão frágil. E tão forte. E que precisa de Catarina por perto. Todos nós precisamos corrigir alguns passos, refazê-los. Reencontrar esses olhos verdes que nos deram e dão vida. É isso que Catarina quer agora: cuidar melhor dos seus dias. Quem sabe, não trabalhar tanto e ter mais tempo para esses olhos verdes meio azulados, castanhos, pretos… esses olhinhos de jabuticaba, esses olhões atentos. Esses olhares dessas pessoas que são as mais importantes na vida dela, mesmo quando ela estão tão rigiculamente centrada em seus próprios problemas e não consegue sentir a ternura e a saudade crônicas que eles – e ela – trazem dentro de si. Coisas da vida. Histórias de Catarina.
Ps. essa foto é de uma exposição de Leila Kris, a quem não conheço. Tá lá no Jokers. Amei. (Adri)
Meu nome é Catarina e um amigo meu me enviou o link do blog de vocês essa manhã…
O texto é perfeito, e também se encaixa com o que estou vivendo agora.
Me identifiquei muito e queria dar os parabéns, pois está muito bem escrito. Parabéns! 🙂