De Inverno Comunicação

Jornal do Estado
Entrevista exclusiva

Fotos: João Noronha /Divulgação

Dedé Santana: prêmio como o primeiro palhaço de cara limpa

O Trapalhão Dedé Santana, agora com escritório em Curitiba, conversou sobre seu planos e lembrou muitas histórias

Adriane Perin

Poucos sabem, mas foi no canal 12 da nascente televisão paranaense em Curitiba, que Manfried Sant´anna, mais conhecido como Dedé Santana, teve seu primeiro programa. “Era um garotão, passei por aqui com o show e peguei amor pela cidade. O Domingo de Festa foi um sucesso e me rendeu convite para a TV Rio”, conta o eterno Trapalhão, emendando que também estreou aqui com o parceiro Didi, no Teatro Guaíra, antes ainda da inauguração. “Foi nossa primeira peça, Os Inssociaveis”. Ele ainda não mudou-se definitivamente, mas a primeira parte da acalentada volta para a cidade está em curso com a abertura de seu escritório, Dedé Santana Produções, em Curitiba. Atualmente, ele se divide entre Itajaí, Curitiba e o Rio de Janeiro, onde grava em sua volta à Globo e à parceira com Renato Aragão.

Estar diante de um dos Trapalhões trouxe ansiedade, afinal sou filha dos anos 70, e como muitos, esperava os domingos pra, no colo do meu avô, cair na risada com aquele maravilhoso quarteto atrapalhado. Dedé está com 70 anos e suas histórias ocupam quase todo o tempo, que fica curto para as lembranças desde os tempos de circo da família, de quando substituia o famoso Palhaço Arrelia; das histórias loucas do “cumpadre Mussum”. Mas, quase não trata de assuntos mais belicosos como o período de afastamento de Renato Aragão, a temporada fora da Globo ou as pendengas com os familiares dos trapalhões mortos. “A poeira baixou, e o Didi pode me chamar de volta. É muito legal, porque todo mundo pára pra ver quando a gente vai gravar junto. O Renato está sendo muito bom comigo e sempre fomos amigos”, garante. Sobre o fim dos Trapalhões, e parcimonioso nas palavras. “Ah, foi cada um morrendo e, sem dois pés a mesa tombou”. Ele prefere falar do que vai fazer, entre os quais um sonhado “filme sério”.” A Ùltima Chance, que está quase pronto”, adianta, acrescentando que a idéia é ter um estúdio na cidade.

Também está contente com o lançamento em DVD dos clássicos cinematográficos dos Trapalhões. “O pessoal sempre me cobrou e agora eu vou ter também, já comprei cinco”. Aproveita para contar que “sempre quis ser diretor” e Didi lhe deu essa alegria. “Dirigi vários filmes dos trapalhões, inclusive O Mágico de Oroz, sucesso de crítica e público e a menina dos meus olhos, A Filha dos Trapalhões”.

Televisão — Ele lembra também de quando chegou na Globo e foi apresentado para “um cara magrelo, um cearense com cara de fome”. “Ele já era Didi e eu já era Dedé, desde criança. Eu tinha cara de baiano, nome de alemão e nasci em Niterói, veja só”. Dedé cresceu no circo. Estreou com 3 meses, no colo da mãe, em uma história onde o filho de escravo era vendido. Havia uma gravação do choro do bebê pronta, mas ele inventou logo de início. “Chorei na hora certa e a equipe começou a rir. Meu pai teve que parar e pedir desculpas. Foram meus primeiros aplausos”. No circo da família fez de tudo, de palhaço ao globo da morte, passando pelos trapézios. “Um dia meu pai foi perguntando para os filhos sobre o que cada um tava fazendo e eu contei sobre os oito números que ensaiava. Ele perguntou porque eu não fazia um só, bom”, lembra, rindo. “Eu era muito metido. E nosso circo foi o primeiro a ter também um palco, ao lado do picadeiro”. Lá, ele até tentou fazer um papel sério. “Era O Ébrio, o circo lotado e chovendo muito, as pessoas com guarda-chuva porque chovia dentro”. Claro que ele não resistiu e fez piada”. “Meu pai queria me pegar do lado de fora, mas o circo inteiro caiu na risada”, rememora ele, que já foi também, verdureiro, engraxate, ajudante de mecânico e cortador de camisa.

Trabalhou também com o famoso palhaço Arrelia, conhecido como o primeiro a ter circo na tv. “Na verdade o primeiro palhaço da tv foi meu primo Pirulito, mas o Arrelia que ficou pra história”, esclarece antes de engatar mais história. Ele substituia Arrelia, que era muito rigoroso com o horário. Mas ficava intrigado porque mesmo fazendo tudo igual ao Arrelia, as pessoas não riam do mesmo jeito. Um dia, chegou em cima da hora, entrou correndo em cena e… choveram aquelas risadas que ele tanto esperava. “Eu tinha esquecido de pintar a cara”. Momento histórico: foi a primeira vez que Dedé Santana fez graça com a cara limpa. “Nunca mais pintei a cara e ganhei até prêmio como o primeiro palhaço de cara limpa”, conta ele que hoje dia, só de vez emquando faz circo.

Histórias do “cumpadre Mussum”

Dedé é abordado o tempo todo, conta. “Em Serra Pelada as pessoas choravam porque lembravam das famílias que não viam. Recentemente tenho me emocionado mais ainda”. Outro dia, duas comissárias de borbo da TAM perderam aquela panca característica para se derreter de alegria diante dos autógrafos conseguidos. “Não me escondo, faço tudo normal. Sou como o Mussum”. E por falar nele, de volta às histórias, agora as do “cumpadre Mussum”.
Um dia, conta Dedé, ele chegou em sua casa com a família e malas prontas. “Cansei da minha casa, nesse final de semana eu fico aqui e você fica na minha,ok, para eu dar uma espairecida. Ele era assim”.
Em outra história, Dedé foi surpreendido com um telefonema do compadre informando que havia comprado um barco pra ele, mas ele teria de pagar. “Ele tinha conseguido dois pelo preço de um, acredita? Mas o que eu ia fazer com um barco?”. E outra ainda: Eles costumavam sair juntos com a turma dos Originais do Samba, mas um dia Mussum disse que não sairia mais com ele. “Ah, compadre, você me envergonha bebendo só esse suquinho aí”, conta, sobre o famoso bebedor de “mé”, seu mais próximo amigo. Já Didi é mais tímido. “Mas ele sempre teve uma coisa muito boa, que foi manter o clima de brincadeira mesmo quando a gente andava aborrecido”. Para fechar, mais uma história: em uma premiação que foram receber em Portugal, em meados dos anos 90, Renato inventou. Todo mundo chegava de limusine e o trapalhão quis fazer sua entrada triunfal de carrroça. “E cismou de querer guiar. Na hora que a gente devia parar, os cavalos não obedeceram e lá foi a gente com carroça para cima do tapete vermelho. “No outro dia, só deu nós nos jornais”.

Serviço
Dedé Santana Produções:
(41) 3027-6163.

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