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Altamiro Carrilho: fama com a boa música, simpatia e bom humor para conversar

Adriane Perin

Altamiro Carrilho, que faz hoje show no Teatro Guaíra com a OSP, bateu um papo muito bacana sobre sua carreira e a música

Aos 84 anos de idade, Altamiro Carrilho construiu uma carreira que o coloca no topo quando o assunto é música. Não foi só isso. É quase certo que esta convivência iniciada antes de ter cinco anos de idade seja também o seu elixir, pois até em uma conversa por telefone, é inevitável se supreender com o vigor do falante flautista, também muito bem humorado até quando faz críticas – e nenhuma rusga para conversar pela enésima vez sobre sua trajetória. Um dos nomes máximos da flauta transversa, e um mestre do choro, ele está em Curitiba, a convite do Sesi-Pr e Teatro Guaíra, em cujo palco faz hoje o show A Fala da Flauta. Na performance, junto com a Orquestra Sinfônica do Paraná, ele faz também o lançamento da caixa com 3 Cds, Poesia do Sopro, que traz o registro de um concerto feito por Altamiro e convidados em agosto de 2006 e uma antologia de gravações históricas realizadas entre 1949 e 1955. Ele adianta que está fazendo um DVD, com “ depoimentos em forma de música abrangendo minha trajetória, contando causos pitorescos, com gente de alta categoria, como Tárik de Souza, Julio Medaglia. Sou muito exigente”.

Com 112 discos gravados Altamiro diz que no Brasil não lhe falta fazer nada. “Talvez viajar para alguns países. Esses discos, metade fiz como solistas e outra com os grandes cantores desde os anos 40”, diz e vai desfilando os nomes que começam com Moreira da Silva, Francisco Alvez, Vicente Celestino, Dalva de Oliveira, Angela Maria, Elizete Cardoso, “gente do mais alto grau”, alguns ainda vivos, como Roberto Carlos e Chico Buarque, emenda.

Boas lembranças — Nem cinco anos ele tinha ainda, quando vidrou naquele instrumento que fazia fiu-fiu , de um amiguinho que não tirava melodia nenhuma. O Natal se aproximava e seu presente tava escolhido. “Fiquei intrigado, peguei e descobri que cada buraco daqueles que eu destampava, dava nota diferente. Quando ganhei a minha nem almoçei, fiquei agarrado com minha flautinha”, lembra ele, que teve no lado materno da família o estímulo musical. Uma tarde em uma reunião famíliar, sem avisar, tocou uma marchinha de carnaval, e causou espanto. “Comecei a ser tratado de outra forma”. A partir daí sua convivência com a música ficou ainda mais próxima, participando dos ensaios da banda dos tios – cada vez mais entusiasmado. “Era muito pequenininho, nem aguentava os instrumentos que ficavam em um suporte”, lembra ele que travou contato com vários instrumentos de percussão. Até que um vizinho o convidou pra ouvir um disco de flauta, “gravada no tempo do gramofone”. Nesse meio tempo, já com 12 anos e a família morando em Niterói, conheceu um carteiro flautista que ao ouvi-lo pensou ser um disco e se ofereceu para dar aulas de graça. “Passei também a fazer minha flauta com bambu e fui pra todo programa de calouro que existia”. Aos 14 anos, apareceu Moreira da Silva e o levou para um estúdio de gravação.

Serviço
Altamiro Carrilho. Dia 16 às 21h. R$20 e R$10. Guaira (Pça Santos Andrade, s/n). Informações: (41) 3304-7982.

Músico bom tem, mas é tudo mecânico

Altamiro gosta muito de ouvir música, mas com cuidado. “Sem ruído que interfira, para poder ouvir os detalhes, que dizem muito”. O brasileiro é bom de improviso, observa, e se sai melhor quando investe nisso. “Quem tem criatividade não deve negá-la. Gosto muito de colar notas que não estão na melodia”, diz. “O que tem aparecido não merece muito minha atenção. Preferem música fácil de assimilar, sem melodia é muita letra embolada”, diz, confessando que não gosta de rap. “De rock até tem coisas muito boas, mas a bossa nova, esta sim trouxe coisa boa. O brasileiro faz tudo melhor quando improvisa, seja na política, nas artes ou no jornalismo”. As décadas vividas não foram suficientes para amainar sua inquietação musical nem o deixaram mais condescendente. “Me nego a me acostumar. O problema é que gosto de melodia, harmonia”. Nem as novas gerações de músicos populares escapam de sua veia crítica. “Até estão revivendo o choro, não falta músicos bons, mas é tudo mecânico. Falta criação. Tem que fazer algo novo e não ficar remoendo o que foi”, alerta. E sobra também para quem divulga. “O pessoal não alcança a qualidade da pureza das coisas boas. Preferem tocar as mais fáceis, chamadas ‘comerciais’, porque acham mais fácil vender”.

Vaidade — No final, pede que a repórter “corte a metade” do que falou. “Não é bom ser vaidoso e peço a Deus que não me deixe influenciar, pois ela atrapalha e você só quer fazer aquilo que te agrada. Então, corta quando parecer que to sendo muito vaidoso”.

Uma resposta

  1. só pra constar: amei conversar com esse velhinho. aliás, com uma energia de fazer inveja a muito “jovem” por aí… e os discos do homem. que delícia ouvir essa flauta a manhã toda…dá uma paz.! agora vou ouvir o lique. esse show de terça vai ser o bicho.

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