De Inverno Comunicação

Bem Paraná/ Jornal do Estado

No novo lançamento da Cosac & Naify, que reúne entrevistas feitas pelo jornalista Eric Lax ao longo das mais de três décadas

Divulgação

Woody Allen em uma das cenas de seus filmes

Adriane Perin

Nas 512 páginas de Conversas com Woody Allen, lançamento da editora Cosac & Naify, assinado por Eric Lax, é, efetivamente, possível conhecer muito do cineasta norte-americano, que fez fama nos últimos 36 anos. Neste período, Allen produziu incontrolavelmente filmes, boa parte marcada por uma pegada cômica, que nunca precisou dispensar a ironia ao traduzir suas realidades-alvo.

O grande trunfo do jornalista entrevistador é ser amigo do cineasta, o que permite colocar em cena informações de bastidores, detalhes de uma produção à outra, que fazem toda a diferença e demonstram um conhecimento profundo dessa trajetória. Os diálogos vão muito além do óbvio e Lax investiga questões que talvez nem Allen tenha pensado.

Talvez, mas também parece impossível que a mente acelerada deste senhor tenha deixado passar algum ponto que seja, tantas são as reflexões, e sempre pertinentes, embora às vezes chatas consigo mesmo, que faz de sua própria trajetória. Chama a atenção o desapego de Woody Allen com sua obra, o que transparece em declarações do tipo: cada projeto é um projeto, “só isso”. Allen se avalia o tempo todo, e com um olhar absolutamente despido de vaidades, lisonja e sem que isso soe como coitadismo. É só a objetividade de quem se considera um operário; não tem estrelismo algum ali, ao contrário. Tem segurança e foco. É raro ver uma estrela dessa envergadura se mostrar dessa maneira.

“É só um filme”, diz em certo ponto. “Se visse meus filmes teria surpresas aqui e ali, mas na maior parte ficaria bem arrasado”, diz por exemplo, exercitando seu desapego em análise impiedosa consigo mesmo.

É muito interessante ler os comentários que o criador faz de personagens e atores, de idéias que nasceram como certas e acabaram mudando. Sobre ser cômico ou dramático, sobre atuar – e o que muda ao estar em cena – ou deixar o filme livre de si mesmo; sobre a busca por um olhar que faça a diferença.

Parece que todo o “processo criativo” está esmiuçado em conversas travadas ao longo das últimas décadas, divididas em blocos temáticos, organizados cronologicamente: a idéia; escrever; direção; montagem; trilha sonora; casting, atores , atuação; filmagens, sets e locações; e a carreira. E o olhar do jornalista não é só de um fã. Ele não perdeu a noção e nem se deslumbrou diante da força de Woody Allen. Manteve uma postura crítica, tanto quanto o criador, mas deixou que este falasse, jogando assuntos. Um exemplo de como ele não poupa o cineasta foi citar um psiquiatra que o considerou “meio infatilóide. Em passagens como esta, muito da pessoa se mostra entre as faces do artista.

O resultado não é algo maçante e vai além do universo de iniciados – embora seja sim uma obra mais próxima de quem curte o trabalho de Allen.

Lax foi e voltou nas entrevistas, feitas em época diferentes, o que lhe permite comparar momentos, questionar escolhas e entendê-las. Tudo com o background de quem conhece mesmo do assunto. E sempre situando o leitor, citando exemplos e passagens de filmes e também da vida pessoal do cineasta, em alguns momentos, mas sem ser fofoqueiro, apenas passando informações relevantes para que se entenda o que Allen quis dizer.

Nas partes dedicadas à escolha de elenco, Lax põe em primeiro plano as atrizes que marcam a vida e a obra do cineasta, como Diane Keaton, Mia Farrow, Dianne Wiest, Scarlett Johansson. Não deixa de lado a sempre surpreendente escolha de atores coadjuvantes, que aproveita de maneira inesperada talentos desgastados pela televisão ou então associados a clichês ou a determinados tipos de personagem. Ele fala tam bém muito de suas influências fundamentais, Bob Hope com os Irmãos Marx e Ingmar Bergman. Ao longo dos capítulos, que cobrem os anos entre 1971 a 2006, é possível perceber a evolução do diretor e como ele foi dominando a técnica cinematográfica.

Respostas de 4

  1. é isso aí cris, gostei muito da forma como ele fala dele mesmo, sem coitadismo mas também consciente da efemeridade de tudo… me lembrou um pouco ivan falando de alguns discos d"OAEOZ; sobre eles serem fotografias de um momento, imperfeitas, mas um registro.
    Woody allen me pegou por aí, um cara como ele, vendo sua obra com esse olhar, achei muito legal. sem falar no jornalista que manja muito de woody allen. é bem bom, tulio, mas deve ser meio caro..cosac & naify é foda, mas cobra um peço

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