De Inverno Comunicação

Jornal do Estado/ Bem Paraná

Documentário traz pessoas importantes na vida e obra de Arnaldo Baptista, menos “Ritinha”

Muitas biografias de brasileiros importantes estão por serem escritas.

Adriane Perin

Muitas biografias de brasileiros importantes estão por serem escritas. É provável que tenhamos que esperar ainda mais tempo para esta lacuna ser coberta à altura dessas pessoas, pelo que se nota do que tem sido publicado por aí. É verdade, também que o volume de material biográfico aumentou. Nas últimas semanas até os cinemas de Curitiba, conhecidos por ficarem pra trás nos lançamentos com um pezinho no alternativo, tiveram em cartaz três cinebiografias de importantes músicos brasileiros: Wilson Simonal, Paulo Vazolini e Arnaldo Baptista.

A história do criador, líder dos Mutantes, seguem em cartaz. É mostrada com tranquilidade por Paulo Henrique Fontenelle no documentário Loki – Arnaldo Baptista, que acompanha a retomada dos Mutantes sem Rita Lee, no show de Londres, no aniversário da Tropicália. Com entrevistas e imagens de arquivo reconstroi a tortuosa história deste que, sem dúvida alguma, está bem lá no alto da lista dos caras que mudaram a música. É um documentário de fã, mas Fontenelle nem era tanto quando começou um programa sobre os Mutantes, para o Canal Brasil, produtor do filme. Ficou assim, como disse em entrevista ao JE, depois de ouvir o disco Lóki, um dos mais impressionantes feitos na música brasileira, pelo alto teor emocional. É tão cheio de sentimentos, de saudades, de dores, e arrependimentos, também, que machuca até quem ouve — e, pode acreditar, nem se ouve ele impunemente, nem é possível ouvi-lo qualquer dia.
Ali, está um Arnaldo fragilizado tanto pela separação de Rita Lee e rumos da banda, como pelos efeitos do consumo de drogas. Incapacitado de separar vida e arte, mergulhou tão profundamente na mistura que desmoronou sua existência, mas acabou por construir uma obra que continua sendo única. No documentário, estão pessoas importantes em sua vida, mas não Rita Lee. A relação com ela é tratada de maneira muito bonita pelos amigos. Não existe dúvida que foi um amor mais do que arrebatador. Todos falam com muito cuidado, compreendendo que as relações amorosas têm suas nuances só percebidas por quem as viveu.

O filme mostra todas as fases: o começo, na adolescência; tropicália; sem Rita nos Mutantes, com a Patrulha do Espaço e a solo, marcada por machucados visíveis, recados e pedidos de desculpas em canções que fazem a gente chorar. E a fase da internação para desintoxicação quando ele caiu da janela da clínica; o ostracismo, sem esquecer a da recuperação, sob os cuidados de Lucinha Barbosa, fã que virou mulher, mãe, amiga e protetora.

Arnaldo Baptista, como o são as pessoas geniais, não foi um cara fácil de se conviver. E as pessoas que depõem no filme, parece, são condescendentes com ele, abrigadas também no distanciamento que o tempo traz. Mas, todas são unânimes em reafirmar a genialidade de Arnaldo, em reconhecê-lo como “o cara” dos Mutantes e ao ver a sua obra como uma das mais revolucionárias da música. Arnaldo Baptista ainda não tem uma biografia “definitiva”, mas já tem uma cinebiografia que consegue colocá-lo no patamar que lhe cabe. Muito se fala de outros grandes nomes geniais da música brasileira, mas não são tantas assim as que citam Arnaldo. Quem sabe, justiça começa a ser feita.

Respostas de 2

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *