De Inverno Comunicação

Juliana Girardi

Gazeta de hoje

“Tudo o que dependeu de mim neste tempo todo, fiz com todas as minhas forças e com tudo o que tinha e o que não tinha, porém sem resultados positivos, só balada mesmo, e isto não muda em nada a postura e o futuro de nossa arte, que está à deriva, ainda mais com a nova onda dos covers e pistas de dança que invadem a cidade.”

Essas são apenas algumas linhas da mensagem de desabafo que o músico e produtor JR Ferreira, proprietário da histórica casa de shows independentes 92 Graus, enviou há duas semanas a alguns amigos. Após 18 anos de serviços prestados ao underground curitibano e nacional, o 92 Graus parece dar seus últimos suspiros neste mês. “Estou cansado, pensando mesmo em dar um tempo. Venho tentando encontrar formas de manter o bar aberto de uma ma­­neira financeiramente viável, mas está difícil. Acho que dessa vez, não vai ter jeito”, lamenta o músico, visivelmente triste.

Além das razões citadas no primeiro parágrafo do texto, o desânimo de JR deve-se a uma combinação de acontecimentos infelizes, que vêm dificultando sua vida de empreendedor independente. A primeira e mais preocupante delas é a renovação do contrato do imóvel que hoje abriga o 92 Graus, no bairro São Francisco. A imobiliária pretende dobrar o valor da locação, o que tornaria o funcionamento do bar impraticável. “Apresentamos uma contraproposta e teremos um retorno nas próximas semanas”, explica.

Fora o impasse imobiliário, um pequeno incêndio em um dos banheiros do bar, há duas semanas, complicou ainda mais as coisas, gerando gastos imprevistos. Para completar, JR teve as senhas violadas de suas contas no Orkut e no Gmail, impossibilitando a divulgação dos shows e o contato com as bandas, já que sua lista de e-mails foi totalmente excluída. O prazo de validade do domínio do site do bar (www.92graus.com) também venceu e não foi renovado devido à incerteza se o local continuará aberto ou não. “Tudo o que podia acontecer de ruim veio ao mesmo tempo”, diz.

Como possíveis soluções, JR vem buscando parceiros que possam investir no bar, mas a ideia de “passar o ponto” adiante, por enquanto, lhe parece a alternativa mais provável. “Estou analisando tudo como um negócio mesmo. Penso em vender a marca 92 Graus, que inclui o equipamento para shows e o alvará para bandas ao vivo”, revela.

Segundo o músico, até o dia 27 de abril o bar ainda irá contar com uma programação de festas e shows, que serão divulgados nos próximos dias, marcando a despedida do espaço e, quem sabe, o mantendo “respirando” por mais algumas semanas. Enquanto isso, JR está aceitando ideias e propostas que possam garantir o funcionamento do espaço. Basta entrar em contato pelo e-mail 92graus@bol.com.br.

Respostas de 7

  1. não sei o que dizer. foi sob este "domínio" – ninety two degrees -, que me fiz, que me tornei um tantão do que sou hoje. há tempos não vou no 92,e faz tempo também que não vejo o JR. fiz várias matérias sobre o assunto, sobnre essa história bonita e trise. Não sei o que dizer pro Jr, nem sei se existe algo a ser dito. Afinal, não é de palavras que ele precisa e, inclusive, deve estar de saco cheio até de gente como a gente, com boa vontade, mas que tá tocando a sua vida… é inacreditavel que um lugar importante como este esteja definhando, reflexo de vários fatores que incluem os novos tempos… é…cara, eu queria tanto ter uma alternativa… mas não tenho achar nem o que dizer…

  2. Tenho que concordar com o Rubão.

    MAS… foda é que – seja em Curitiba, Taubaté ou BH – a música (e os músicos) não querem ser JRs (ou Ivans, Adris, Wellingtons). Querem alguém que faça, que resista. Botar a mão na massa é difícil, e quase ninguém bota. JR tá lutando quase sozinho (vocês entendem o "quase") há anos, uma hora o cara precisa respirar. E aí, quem pega o bastão depois dele? É aí que a encrenca arrebenta.

  3. foda. um reflexo de como estão algumas coisas em curitiba. tomara que com essa nova década venha um novo fôlego………

    mudando, adri e ivan, precisava trocar uma ideia com voces a respeito de assessoria, uns toques, enfim, logo explico melhor.. abraço

  4. é por aí. eu, por minha maldita culpa cristã, me sinto responsável também. mas, cara, é bem o que o leo disse, tem uma hora que as pessoas precisam respirar e pensar em suas vidas. Isso também cansa e para este cansaço ajuda muito o discurso de gente que chega dizendo que agora tudo vai mudar, e essas coisas. E, no final das contas, não guentam um tranquinho sequer e já entregam as pontas de primeira. é bem isso, quem vai continuar essa história. cadê as novas gerações tão boas, eficientes e comunicativas com seus instrumentos poderosos on line? cadê eles? cadê? tão aí tocando as suas vidas, claro, e esperando um festival, um produtor uma gravadora que faça o milaqre. e cobrando, claro, da mídia que não dá atenção, dos jornalistas que são desinteressados, das rádios que não tocam a banda.. enfim, é muito fácil achar desculpas. mas, vai segurar festivais e um bar por tanto tempo pra ver como a vida de verdade. 'Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais'? e não é de hoje que vejo se delineando tempos bem estranhos sim. e o egoismo e o egocentrismo infelizmente estão na linha de frente. Será que algum dia não estiveram?

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